Santa Catarina enfrentou chuvas intensas nos dias 16 e 17 de janeiro, com volumes de água que superaram mais do que o dobro do previsto pela Defesa Civil até o dia 15. O fenômeno resultou em mais de mil pessoas desabrigadas e uma morta. Entenda o que causou as chuvas no litoral catarinense e porque elas não foram previstas.
Pesquisadora aponta que evento conhecido como ‘lestada’ foi o fenômeno que causou as chuvas no litoral catarinense – Foto: Reprodução/ND
A pesquisadora Regina Rodrigues, da Coordenadoria Especial de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), afirma que o fenômeno que causou as chuvas no litoral catarinense é conhecido como lestada. Em entrevista à Agência de Comunicação da UFSC, ela explica que tal evento é caracterizado por ventos fortes e persistentes vindos do mar, que provocam chuvas intensas e contínuas.
Segundo Regina, há ainda lacunas no conhecimento científico sobre esse tipo de evento que causou as chuva. A pesquisadora relaciona a sua intensidade às mudanças climáticas, que tornam eventos extremos cada vez mais frequentes e difíceis de prever.
Fenômeno que causou as chuvas é difícil de prever
A acadêmica afirma que o fenômeno que causou as chuvas é de difícil detecção. “São nuvens que os satélites não captam. A gente usa muitos dados de satélites para alimentar os modelos. Radares meteorológicos, sozinhos, não fazem previsão”, explica.
De acordo com Regina, existe uma deficiência no conhecimento científico sobre o tema. Segundo ela, a maior parte dos métodos de previsão do tempo é do hemisfério norte. “A gente sabe mais de eventos extremos que ocorrem lá. Esse evento é super localizado e a gente não tem o conhecimento científico, porque não há investimento nisso”.
Mudanças climáticas intensificam fenômeno que causou as chuvas
A pesquisadora explica que a lestada já ocorre há anos, mas aponta que as mudanças climáticas provavelmente intensificaram o fenômeno que causou as chuvas no litoral catarinense. Segundo Regina, esses eventos extremos estão cada vez mais comuns e já estão sendo mapeados pela ciência.
“Nos anos em que uma La Niña fraca está para se estabelecer existe uma pré-disposição a isso. Mas mesmo que esteja relacionado a La Niña, é um fenômeno difícil de prever e saber exatamente a localidade”, explica.
Ela ainda aponta que a previsão do tempo usa modelos que fazem simulações usando dados do passado, com as mudanças climáticas as dinâmicas da natureza vão se alterando, e os dados do passado não correspondem mais ao presente. “Duzentos milímetros em 12, 18 horas, não ocorria, ou era muito raro”, argumenta a pesquisadora.
Falta de planejamento público e urbanização agravam problema
Regina enfatiza que, mesmo com previsão antecipada, os impactos seriam difíceis de mitigar sem planejamento urbano de longo prazo. Ela lamenta construções em áreas de preservação e alerta para o aumento de risco durante enxurradas ao se colocar mais cimento em áreas verdes.
A especialista defende ações preventivas em caso de alerta, como desmobilizar serviços e comércios, mas destaca que tais medidas enfrentam barreiras práticas e econômicas.
“Quando você faz uma previsão, existe uma probabilidade grande de a chuva ocorrer, mas pode ser que ela não ocorra. O que vai ser feito? Os trabalhadores vão ficar em casa e os empregadores vão aceitar essa situação? E se a chuva não ocorre?”, indaga.
Chuvas em Florianópolis bloquearam pontos da SC-401 durante a tarde do dia 16; rodovia foi liberada após algumas horas, mas com muito congestionamento – Foto: Reprodução/ND
A pesquisadora argumenta que o planejamento urbano precisa ser voltado para enfrentar eventos extremos e pede que sejam feitos mais investimentos em previsão, defesa civil e ciência para evitar tragédias como essa.
Para minimizar os impactos de eventos climáticos extremos, Regina defende a adoção do conceito de “cidades esponjas”, inspirado em práticas asiáticas.
“Com preservação, manejo e restauração de matas nativas, manguezais e investimento em mais áreas e parques ecológicos dentro da cidade, mais arborização, você minimiza esse impacto quando tem uma chuva forte”, finaliza.
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Bairro Monte Verde durante chuva em Florianopolis – Reprodução/ND
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Beira-Mar em Florianopolis – Reprodução/ND
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Carros submersos no Centro durante chuva torrencial em Florianopolis – Reprodução/ND
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Centro após forte chuva em Florianópolis – Reprodução/ND
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Chuva em Florianopolis deixa UFSC alagada – Reprodução/ND
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Alagamentos em Florianópolis – Reprodução/ND
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Forte chuva em Florianopolis causa deslizamento – Reprodução/ND
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Hospital em Florianópolis foi invadido por água – Reprodução/ND
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Josué Di Bernadi em Florianópolis – Reprodução/ND
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Ônibus parado durante chuva em Florianópolis – Reprodução/ND
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Ônibus tombado durante chuva em Florianópolis – Reprodução/ND
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Rua alagada em Florianópolis – Reprodução/ND
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Trânsito intenso na Beira-Mar durante forte chuva em Florianópolis – Reprodução/ND
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Imagem da entrada do supermercado – Divulgação/Aline Fehlk/ND
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Ônibus tombou após forte chuva em Florianópolis – Divulgação/Guarda Municipal
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O condutor amarrou uma corda na cintura e foi puxado com a ajuda de testemunhas no local – Divulgação/ND