Evellyn e Ellen Souza, de 18 anos, concluíram o ensino médio na Escola Estadual Polivalente Gabriel Arcanjo de Mendonça, em São João Nepomuceno. Agora, se preparam para iniciar a faculdade em Juiz de Fora, em abril. Gêmeas Evellyn e Ellen Souza, de São João Nepomuceno, foram aprovadas para medicina e letras na UFJF
Arquivo pessoal
As gêmeas Evellyn e Ellen Souza sempre foram muito unidas e assim permanecerão pelos próximos anos, já que ambas foram aprovadas para ingressar na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Evellyn vai cursar medicina e Ellen fará letras.
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A história das irmãs, que passaram pela Estadual Polivalente Gabriel Arcanjo de Mendonça, em São João Nepomuceno, torna-se ainda mais inspiradora devido à dedicação da mãe das jovens, que, por falta de oportunidades para continuar estudando na zona rural do município, deixou a sala de aula ainda na 4ª série, aos 10 anos, para trabalhar como babá.
Mãe solo, a faxineira Mirian de Souza não escondeu a satisfação e o orgulho ao saber da aprovação das filhas na universidade juiz-forana:
“Para mim foi motivo de muita alegria, pois é o meu sonho ver elas formadas. Fiquei muito orgulhosa por elas, pois são muito estudiosas. A sensação que eu sinto é de orgulho. Sempre foram meninas muito estudiosas, que nunca deram trabalho. São minhas amigas, minhas companheiras, que me ajudam em tudo. Fico muito feliz por elas”, disse.
“Comecei a trabalhar cedo, com 10 anos eu já cuidava de crianças. Na roça a gente começava a trabalhar desde cedo. Meu sonho sempre foi estudar, mas, como eu morava na roça, não tive como seguir nos estudos. Aí esse passou a ser o incentivo aos meus quatro filhos”.
Aulas, trabalho e projeto social
Durante a preparação para a prova do Enem, Evellyn e Ellen dividiam o tempo também com outras atividades, como um projeto social de Jovem Aprendiz e o trabalho – Evellyn é secretaria em um consultório odontológico e Ellen atua na Escola Municipal Coronel José Braz.
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“Trabalhava como atendente e secretaria em consultório odontológico e estudava a noite. Então, eu tentava encaixar os estudos no meio disso tudo”, explicou Evelly, que disse ter estudado no tempo livre que tinha pela manhã, em alguma brecha no trabalho ou em qualquer outro momento.
O incentivo para cursar medicina, segundo ela, veio de Wanessa, a irmã mais velha:
“Eu pensava que medicina não era para mim, que seria muito difícil e estaria fora da minha realidade. Pensei em fazer psicologia, mas a Wanessa me deu apoio e incentivo para que eu tentasse medicina. Fui estudando com material da internet, como vídeos e aplicativos”, explicou ela, que fez vários simulados com provas anteriores do Enem.
Já Ellen decidiu fazer letras devido às atividades do Jovem Aprendiz:
“Comecei a trabalhar na Escola Municipal Coronel José Braz e, certo dia, uma professora precisou ir para uma reunião rápida e eu fiquei na sala com algumas crianças. Foi lá que eu me vi naquela área. Mesmo que por um curto período, eu gostei da experiência, e me vi ingressando na área da Educação”.
A aprovação dupla foi motivo de muita alegria para a família: “O resultado era para ter saído no domingo, mas atrasou. Ficamos muito ansiosas atualizando o site [da UFJF]. No outro dia de manhã minha irmã me acordou falando que eu passei. Vi o resultado e vi que eu também tinha sido aprovada. Passamos o dia todo comemorando”, lembrou Evelly.
Gêmeas, unidas, mas diferentes
As irmãs a união como estratégia de preparação para as provas:
“De início, a Evelyn começou a me motivar. Eu via ela estudando e eu ia perguntando como ela fazia para estudar. Ela me passou as dicas, os aplicativos para organização dos estudos e eu fui acompanhando ela de um certo jeitinho. Ela sempre foi a mais inteligente e eu ia na dela”, riu Elen ao contar.
Mesmo unidas, no entanto, há gostos diferentes, inclusive nas matérias: “Sempre gostei de exatas, como matemática e química. Ela [Ellen] gosta de português. Depende da situação, mas eu costumo ser mais desembolada para falar”, explicou Evellyn.
As duas, que sempre frequentaram a mesma escola, a mesma sala de aula, sentando-se uma ao lado da outra, já começaram a se distanciar quando começaram a trabalhar. Agora, mesmo dentro da mesma universidade, estarão em faculdades diferentes.
Evellyn e Ellen com a mãe Mirian
Arquivo pessoal
Elas se preparam a mudança para Juiz de Fora, para o início das aulas, previsto para abril.
Mirian, mãe das jovens, também vive a expectativa do começo do período e avalia a possibilidade de acompanhar as filhas: “Estamos vendo como vai ser a mudança de cidade. Somos muito agarradas e não sei se vou [para Juiz de Fora] com elas”.
As gêmeas projetam também como será a nova fase, agora acadêmica:
“A gente quis dar esse orgulho para nossa mãe. A gente estudou pensando na faculdade. Confesso que tá sendo algo muito novo. Muitas pessoas dizem que é difícil entrar numa faculdade federal, mas nada é difícil, se a gente se esforçar a gente consegue. Sempre falo que o melhor estar por vir. Se Deus quiser, espero melhor para o futuro. A gente não tem a nossa própria casa, e eu e a Evellyn pensamos em dar uma casa para nossa mãe”.
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