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Vistoria e documentação tinham inconsistências em relação ao computador de dados aéreos, ao para-brisas e ao sistema de degelo; agência afirma que aeronave podia operar normalmente
Avião com prefixo PS-FEM foi fabricado em 1981
Reprodução/TV Globo
O avião de pequeno porte que caiu na manhã desta sexta-feira (7) em uma avenida na Barra Funda, em São Paulo, teve três inconformidades apontadas em sua vistoria de informação documental realizada no momento de importação para o Brasil, segundo documento assinado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
As inconformidades apontadas na vistoria são em relação ao computador de dados aéreos, ao para-brisas e ao sistema de degelo (veja mais abaixo). Isso não implica, segundo a Anac, que a aeronave não pudesse operar normalmente. A causa da queda ainda está sendo investigada pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), que agora vai analisar esse conflito de informações.
O avião foi importado dos Estados Unidos em 24 de novembro do ano passado. A vistoria é um procedimento de segurança que garante que a aeronave está de acordo com seu projeto original.
Segundo a Anac, o comunicado que apontou as inconformidades foi enviado no dia 6 de fevereiro —ou seja, um dia antes da queda do avião— ao Profissional Credenciado em Aeronavegabilidade (PCA), responsável por atestar a conformidade do equipamento no momento de sua importação.
O comunicado exige do responsável uma resposta em até cinco dias sobre as três inconformidades apontadas. A agência ressaltou, no entanto, que a aeronave entrou no Brasil com Certificado de Aeronavegabilidade válido —ou seja, ela estava apta para operar no país, sem restrições (veja abaixo a explicação da Anac).
A Anac também destacou que o documento diz respeito “ao processo de informação documental (prestação de contas) da vistoria realizada pelo Profissional Credenciado à Anac”.
Segundo Fernando Catalano, professor da engenharia aeronáutica da USP de São Carlos, as não conformidades indicam a “necessidade de ajustes ou verificações nos registros e sistemas” para garantir que todas as informações estejam corretas e de acordo com os padrões e regulamentos aplicáveis. “Não significa que haja algum defeito”, ressalta.
De acordo com Catalano, as providências a serem tomadas em caso de descumprimento do prazo são variadas, podendo ir do impedimento da aeronave de voar a uma multa.
As três inconformidades encontradas pela Anac são:
Informações divergentes entre Laudo de Vistoria e tela de estação quanto ao equipamento ADC, que é um computador de dados aéreos que mostra ao piloto informações como altitude, velocidade e temperatura, por exemplo;
Verificação da falta de limpadores de parabrisas, declarados como instalados;
A não identificação de autorização para alteração no sistema de degelo das hélices.
Bombeiros e técnicos do Cenipa no local do acidente; posição de hélices pode indicar falha no motor
Bruno Trentin/TV Globo
Segundo Jorge Leal, engenheiro aeronáutico e professor da Escola Politécnica da USP, a posição verificada das hélices do motor direito após o acidente (foto acima) podem indicar falha no motor. “Ele aparece com a hélice embandeirada, que é um procedimento que você usa quando você perde o motor e você deixa a hélice alinhada com o vento. Ela vira uma pá, gira e dá tração ao avião.”
Leal explica que, quando um motor deixa de funcionar, se a hélice ficar virada como uma pá para a frente (como a de um ventilador), vai gerar um arrasto muito grande com a força feita pelo outro motor. Com o embandeiramento, a hélice fica de lado, permitindo maior passagem do vento e que o avião consiga ter mais estabilidade.
Em relação às inconsistências apontadas na vistoria, o engenheiro diz acreditar que “não são coisas importantes, substantivas”. “Se assim fosse, esse avião não teria recebido autorização de voo de fato. Aparentemente não tinha nada que pudesse comprometer a operação do avião”, afirma Leal.
O acidente
O avião caiu na Avenida Marquês de São Vicente, na altura do número 1.874, Barra Funda, São Paulo, nesta sexta-feira. Segundo o Corpo de Bombeiros, foram encontrados os dois corpos carbonizados dentro da aeronave.
O avião, que partiu pouco depois das 7h do aeroporto Campo de Marte, despencou logo depois da decolagem. Duas vítimas fatais resultaram do acidente: Márcio Louzada Carpena e Gustavo Medeiros, que pilotava a aeronave.
Outras sete pessoas ficaram feridas e receberam atenção policial, sendo que mais três foram encaminhadas a atendimento médico por conta própria, de acordo com apuração do SP2.
O modelo do avião é um King Air F90, fabricado em 1981, com capacidade para oito pessoas. Segundo testemunhas, o avião tentou fazer um pouso de emergência na pista da avenida, mas falhou.
A polícia vai investigar as causas e eventuais responsabilidades pela queda da aeronave. A Aeronáutica também apurará as circunstâncias que podem ter provocado o acidente.
O governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se manifestou sobre o ocorrido durante um evento a que compareceu em Ribeirão Preto para entregar moradias populares.
“Infelizmente, o acidente de ontem nos deixou muito tristes […] Esse tipo de acidente reforça a importância de revisar e melhorar os procedimentos de segurança […] . O governo do estado está pronto para fornecer todo o suporte necessário”, disse o governador. “Já fizemos isso em outras situações, como no acidente da Boiadeira e na tragédia de São Sebastião, onde famílias de outros estados foram atendidas e tiveram o traslado realizado por São Paulo.”
Tarcísio já havia feito uma publicação na rede social X na manhã do dia 7. No post, dizia: “Infelizmente, começamos o dia com esse trágico acidente aéreo na capital paulista, com as mortes confirmadas do piloto e do copiloto da aeronave. […] Vale destacar a atuação rápida do Corpo de Bombeiros que em poucos minutos apagou as chamas do acidente, evitando que a tragédia fosse ainda maior. Meus sentimentos aos familiares e amigos das vítimas.”
Veja o posicionamento da Anac:
“Primeiramente, a Anac lamenta o acidente ocorrido nessa sexta-feira (7/2) em São Paulo e presta solidariedade aos familiares das vítimas.
Os registros de manutenção realizados na aeronave acidentada encontram-se na posse do operador e da organização de manutenção que realizou o serviço.
Quando necessária manutenção, a aeronave deve ser encaminhada aos cuidados de entidade de manutenção certificada. A organização de manutenção registra todos os procedimentos realizados em sua documentação interna e na documentação da aeronave, que fica na posse do operador.
A investigação do acidente está a cargo do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão do Comando da Aeronáutica que levantará, entre as informações necessárias para esse trabalho, todos os dados referentes à manutenção da aeronave.
Em relação à referida documentação indagada em sua demanda, informamos que a Anac enviou, em 6 de fevereiro 2025, um comunicado (documento anexo) ao Profissional Credenciado em Aeronavegabilidade (PCA) responsável por atestar a conformidade do equipamento no momento de sua importação dos Estados Unidos, em 24 de novembro de 2024. Esta vistoria, que é um procedimento de segurança, garante que determinada aeronave está de acordo com seu projeto original.
As informações enviadas pela Anac ao Profissional Credenciado sobre as não conformidades encontradas dizem respeito ao registro documental da vistoria apresentada à Anac. A aeronave adentrou o país com seu Certificado de Aeronavegabilidade (CA) válido. Com o CA válido, não há restrições. Significa que a aeronave estava apta para operar normalmente.
Sobre o PCA
De acordo com padrões internacionalmente aceitos para a aviação civil, o PCA é um profissional de notória especialização, para expedição de laudos, pareceres ou relatórios que demonstrem o cumprimento dos requisitos necessários à emissão de certificados ou atestados relativos às atividades de sua competência. Coube a esse profissional enviar à Anac os documentos comprobatórios da vistoria para liberação do Certificado de Aeronavegabilidade (CA) no Brasil.”