Presidente deve receber os 37 ministros na Granja do Torto. Encontro ocorre uma semana após polêmica envolvendo PIX e com aliados cobrando trocas no primeiro escalão do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o lançamento do programa Mais Professores para o Brasil, no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta terça-feira, 14.
MATEUS MELLO/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comandará nesta segunda-feira (20), em Brasília, a primeira reunião ministerial deste ano.
O encontro, que marca o início da segunda metade do governo, acontecerá na Granja do Torto, residência de campo da Presidência da República.
Sidônio Palmeira toma posse como ministro da Secretaria de Comunicação do governo federal
Geralmente, nesse tipo de reunião, o presidente abre o encontro fazendo um balanço do que foi feito e o que ele espera das áreas — o discurso de Lula costuma ser transmitido ao vivo.
Após a fala do presidente, os ministros discursam e apresentam um balanço específico de suas pastas e as principais ações previstas para os meses seguintes.
A reunião ministerial desta segunda acontece em um momento considerado por analistas como delicado para o governo.
Isso porque, na semana passada, o governo recuou em relação à fiscalização de movimentações financeiras em razão de diversas críticas e “fake news” envolvendo o PIX (leia mais abaixo).
Reforma ministerial
Além disso, a reunião ministerial acontece num momento em que aliados do governo no Congresso Nacional cobram mudanças no primeiro escalão, buscando dar mais espaço a integrantes de partidos que sustentam o governo no Legislativo.
Oficialmente, a única troca anunciada até agora foi na Secretaria de Comunicação Social (Secom), onde o publicitário Sidônio Palmeira — que atuou na campanha de Lula em 2022 — assumiu como ministro no lugar de Paulo Pimenta (PT-RS).
Segundo aliados de Lula, há cobranças também por trocas em ministérios com gabinete no Palácio do Planalto (Secretaria-Geral e Secretaria de Relações Institucionais), além de pastas como Saúde, Mulheres e Justiça.
Em entrevista à GloboNews, no último dia 9 de dezembro, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o presidente poderia fazer mais trocas antes da reunião ministerial. No entanto, não houve mais anúncios por parte de Lula.
Desafios de Lula
O ano de 2025 se inicia com diversos desafios para o governo do presidente Lula na área econômica, na política externa, na relação com o Congresso e no meio ambiente.
Veja abaixo alguns exemplos:
melhorar a relação com o mercado financeiro (o presidente costuma criticar as projeções do mercado em relação à economia brasileira;
costurar alianças para as eleições de 2026;
melhorar a relação com o Congresso (Câmara e Senado terão novos presidentes neste ano);
aumentar a participação da União em ações de segurança pública nos estados (governadores de oposição têm se manifestado contrariamente);
viabilizar a COP 30 em Belém, uma vitrine para o Brasil se projetar no mundo como autoridade em preservação ambiental, transição energética e desenvolvimento sustentável.
Polêmica do PIX
No dia 1º de janeiro entrou em vigor uma norma da Receita Federal, que ampliava as regras de fiscalização sobre transações financeiras.
A norma estabelecia um monitoramento de movimentações acima de R$ 5 mil por mês, no caso de pessoas físicas, e R$ 15 mil mensais, no caso de pessoas jurídicas, incluindo gastos no cartão de crédito e movimentações via PIX.
As novas regras tinham como objetivo combater a sonegação fiscal, mas o governo recuou e desistiu da medida diante uma onda de fake news e críticas da oposição.
Entre as notícias falsas se espalhou a tese de que o PIX seria taxado, a grande repercussão negativa nas redes sociais levou o presidente Lula a divulgar um vídeo esclarecendo que a medida não taxava a modalidade de pagamento.
Contudo, a comunicação do governo não conseguiu reverter o cenário negativo, tanto com relação a percepção da população, tanto com os ataques da oposição.
Assim, a equipe econômica do governo decidiu que o único caminho seria revogar o ato que ampliou as normas de fiscalização sobre o PIX, e publicar uma medida provisória para garantir que transações via PIX não possam ser tributadas.
Cenário econômico
O ano de 2025 já começa com desafios para Lula no cenário econômico.
A taxa básica de juros da economia, a Selic, por exemplo, está em 12,25% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central já sinalizou em ata que deverá aumentar em um ponto percentual a Selic nas duas próximas reuniões, isto é, o cenário já indica a Selic em 14,25% ao ano.
O próprio presidente tem dito em seus discursos que a alta dos juros impacta negativamente o crescimento econômico e inibe investimentos.
Além disso, a inflação fechou o ano de 2024 com alta de 4,83%, acima do teto da meta. Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta para o ano era de 3% e seria considerada formalmente cumprida se ficasse em um intervalo entre 1,5% e 4,5%, o que não aconteceu.
Em meio a esse cenário, o dólar tem se mantido acima de R$ 6, o que gera impacto direto nos preços de produtos importados e produtos nacionais que têm importados em sua composição.
Além disso, a alta do dólar pode impactar diretamente alguns produtos e itens, como passagens aéreas, combustíveis e eletrônicos.
Paralelamente a isso, o governo quer aprovar neste ano no Congresso Nacional uma proposta que isente do imposto de renda pessoas que ganhem até R$ 5 mil, promessa de campanha de Lula feita em 2022 que, se aprovada, só passará a valer em 2026, último ano de mandato do petista.