Família paga R$ 10 mil em viagem de cachorros para SC e os três animais morrem: ‘Negligência’

O desejo de ficar perto dos filhos fez com que Luciana e José Neto Murta decidissem se mudar de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém (PA), para Palhoça, na Grande Florianópolis. O casal chegou à cidade na sexta-feira (31), enquanto os mascotes da família, Bruce, Kira e Thor, que viajaram por terra, deveriam ser entregues no domingo (2) por uma empresa contratada. No entanto, os três cães morrem em viagem para Santa Catarina de causas desconhecidas.

O pastor alemão Thor, da raça pastor alemão, morreu durante viagem para Santa Catarina – Foto: Arquivo pessoal/ND
A família acredita que os animais tenham sido submetidos a más condições de transporte e tido suas necessidades negligenciadas, principalmente a hidratação.
Uma veterinária, que realizou atendimento em dois dos três cachorros, informou ao proprietário que eles tinham problemas renais e sinais de desidratação. Foi registrado boletim de ocorrência na delegacia de Palhoça.
“Os três cachorros tiveram os mesmos sintomas e falei para o motorista que o carro deveria estar contaminado com alguma bactéria, mas ele me disse que os outros animais transportados não morreram”, contou o aposentado José Neto Murta ao ND Mais.
Além dos cães da família, outros 11 filhotes eram transportados no veículo. Segundo informado pela intermediária do serviço de transporte, todos chegaram ao destino.
Segurança dos animais motivou escolha por transporte terrestre
A mudança da família do Pará para Santa Catarina aconteceu na última semana de janeiro. A opção pelo transporte terrestre para os cachorros grandes ocorreu principalmente por causa de Bruce, o bulldog da família. A raça é braquicefálica, ou seja, possui cabeça achatada e focinho curto, podendo sofrer com problemas respiratórios.
“Nós pesquisamos e todos aconselhavam a não deixar o focinho curto viajar de avião porque eles podem sufocar na altitude. Também falamos com diversas companhias aéreas e elas não estavam aceitando cachorro grande, só os pequenos. Então, optamos pelo transporte terrestre”, relatou o tutor.
O transporte custou R$ 10 mil. Antes da viagem, os animais passaram por uma série de exames e vacinas. Além dos três, a família possui outras duas mascotes, da raça pinscher, de pequeno porte. Elas também passaram por avaliação médica, foram vacinadas e acabaram viajando de avião com a família. Elas chegaram bem ao destino.

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Bruce, bulldog de 5 anos – Arquivo pessoal/ND

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Bruce teve quatro paradas cardiorrespiratórias e acabou morrendo – Arquivo pessoal/ND

Trajeto de 6 mil km seria feito em cinco dias, mas os três cães morrem a caminhos de SC
Os animais foram coletados no dia 28 de janeiro no endereço em que viviam, a 25 quilômetros de Belém, capital paraense. O transporte seria feito do Pará a Santa Catarina em cinco dias. O trajeto passaria pelos estados de Alagoas, Paraná e São Paulo, até chegar ao destino na Grande Florianópolis. Um total aproximado de seis mil quilômetros.
No dia 31 de janeiro, a morte do primeiro cão foi comunicada. Bruce, de 5 anos, teve quatro paradas cardiorrespiratórias e não resistiu. O óbito do cachorro aconteceu quando o transporte passava pelo estado da Bahia, que não constava na rota que havia sido informada aos tutores.
“Eles prometeram levar um técnico ou um veterinário na viagem, mas foi o motorista com o filho dele, um rapaz de 16, 17 anos. O carro estava refrigerado quando eles buscaram os cachorros, mas notei as baias meio pequenas. Ele [o motorista] disse que pararia a cada quatro horas e que, por isso, eles não sentiriam tanto”, contou José Neto.
Transporte dos cães saiu de Ananindeua, no Pará, com destino a Palhoça, em Santa Catarina – Foto: Google Maps/ND
Cerca de 24 horas após a morte do bulldog, os responsáveis pelos cães foram comunicados da morte do segundo animal, a pastora alemã, Kira, de 10 anos.
“A gente não recebeu nem a notícia de que ela estava passando mal, foi a notícia direta de que ela morreu”, lamentou a nora de José, a esteticista Gabriela Carvalho, que esperava pela família em Palhoça.
O motorista do veículo informou que fez uma parada para dar água aos cachorros e, quando abriu a porta do veículo, a cadela já estava sem vida.
“A Kira era uma cachorra super resistente. Ela já tinha viajado de Fortaleza (CE) para Belém (PA), já tinha feito esse tipo de transporte mais longo, estava acostumada a andar de carro. Foi muito estranho, a gente não entendeu”, desabafou Gabriela.
Pastores alemães morreram em Minas Gerais
Logo após a morte da cadela, a família recebeu a informação de que o pastor alemão Thor, filho de Kira, também havia falecido. O responsável pela viagem contou que havia descartado o corpo de Kira e encaminhou o outro pastor alemão, Thor, para uma clínica veterinária porque percebeu que ele não estava bem.
O cachorro acabou morrendo em um intervalo de quatro horas, em uma clínica veterinária de Montes Claros, em Minas Gerais. A cidade e tampouco o estado faziam parte do trajeto informado antes da viagem começar.
“A veterinária que atendeu os dois, em Minas Gerais, disse que o Thor apresentava problemas renais e sinais de desidratação”, pontuou o tutor.
Thor, de 9 anos, e a mãe, Kira, de 10 anos, morreram durante a viagem com a transportadora – Foto: Arquivo pessoal/ND
“Pra mim foi negligência, estou convicto disso”, desabafa tutor
Os tutores acreditam que os animais foram submetidos a más condições de transporte e foram negligenciados durante o trajeto. Para José Neto Murta, a falta de um profissional veterinário durante a longa viagem foi determinante para a morte dos cachorros.
“Quando contratamos o serviço, nos informaram que iria um veterinário, mas na viagem ele acabou levando os animais para clínicas veterinárias que achava no caminho”, destacou. “Eu, como criador há mais de 40 anos, estou convicto que foi negligência. Todos apresentaram os mesmos sinais, mal tratados, sangrando, com febre”, lamentou.
A família intermediou o contato da veterinária que cuidava dos animais, em Ananindeua, com o motorista do transporte para orientá-lo quando Bruce começou a passar mal.
“A nossa veterinária ensinou ele como era pra fazer, que era pra molhar o animal porque o corpo superaquece e levar para o veterinário se não passasse. Isso foi de tarde, mas ele foi levar o cachorro em um veterinário à noite. Pra mim foi negligência, estou convicto disso”, destacou José Neto.
A reportagem do ND Mais entrou em contato com a empresa Pet Gold Transportes através do responsável, Alexandder Junio dos Santos Marques. Por mensagem, ele informou que está “aguardando laudos veterinários dos cães, feitos pelos veterinários que atenderam os animais, e que estão sob posse dos donos, para que os advogados se manifestem sobre o caso”.

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