Aos 126 anos, Mercado Público resguarda história, gastronomia e cultura de Florianópolis

O prédio mais charmoso do Centro de Florianópolis completa 126 anos hoje. Imponente, diferente de tudo na cidade e ponto de encontro dos manezinhos há mais de um século, o Mercado Público de Florianópolis é o local onde passaram e ainda passam figuras icônicas da cidade, anônimos, autoridades, moradores e trabalhadores do entorno, além, é claro, dos turistas e personalidades que visitam Florianópolis.

Mercado Público de Florianópolis completa 126 anos – Foto: Germano Rorato/ND
Conhecendo o Mercado Público, se aproximam da cultura e da história da Ilha. O cantor João Gilberto, a atriz Liza Minelli, a garota de Ipanema, Helô Pinheiro, os ex-presidentes Jair Bolsonaro, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, o atual presidente Lula e até a vietnamita Kim Phuc Phan Thi, a icônica menina de braços abertos, nua, queimada e aterrorizada por uma bomba química na guerra do Vietnã em 1972. Todos eles, em algum momento, estiveram no Mercado Público.
Ali, no histórico mercadão, centenas de comerciantes ganham a vida. Alguns, há décadas. Aldo de Brito começou nos anos 1970. Hoje, o filho, Aldonei de Brito é quem toca o negócio.
“Foi em fevereiro de 1973 que o meu pai começou. Comprou um box na ala sul, box 36, e mantenho o mesmo CNPJ até hoje, mesmo mix de mercadorias”. Para Brito, o diferencial do mercado é agregar a todos.
“Aqui não tem política, discriminação de cor, nada, tudo que é acontecimento da cidade termina no mercado. É um ponto histórico, um ponto da cultura. Quer conhecer Florianópolis? Vai ao mercado. Temos peixe, condimentos e culinária. Hoje são mais de 50 tipos diferentes de comércio.”
Aldonei de Brito destaca que o mercado continua sendo um dos principais pontos turísticos de Florianópolis – Foto: Germano Rorato/ND
Romulo Barreiros, 41 anos, praticamente nasceu dentro do comércio do pai, Beto Barreiros, no Mercado Público. Para ele, todo mercado municipal é ponto de encontro dos locais.
“Meu pai sempre comenta que o avô dele dizia que no mercado é possível conhecer as pessoas da região, a cultura e os hábitos. Quando pensamos em abrir o Box 32, bar pioneiro aqui no mercado, a ideia foi essa, ser o ponto de encontro da cidade”, destaca.
Para Beto, o Mercado Público é diferente de todos os comércios da cidade justamente por ser formado por empresas familiares, em que os negócios passam das mãos dos pais para os filhos, depois para os netos. O sentimento dele é do mais puro orgulho ao ver os filhos Romulo e Ronald cada vez mais envolvidos no negócio.
“O Box 32 existe há 41 anos, eu era bebê e meu pai brinca que comecei a trabalhar com meses de vida. Se alguém virasse cerveja, tinha que limpar rápido para não cair em cima da criança”, brinca Romulo, que trabalha diariamente com o pai no mercado desde os 15 anos. “Presenciei várias revoluções, os incêndios. Vimos o mercado se transformar, a reforma de 2014, que deu uma revitalizada”, completa.
Romulo Barreiros, do Box 32, diz que a reforma dos banheiros é urgente – Foto: Germano Rorato/ND
Quando viaja pelo Brasil e para fora, o primeiro lugar que Romulo vai é ao mercado da cidade. Na visão dele, o mercadão de Florianópolis não deve nada para outros do país e nem do mundo.
“Sempre tem o que melhorar, mas os mercados pelo mundo são muito parecidos com os de Florianópolis. As cidades menores lembram muito o daqui. Fiz gastronomia na França, viajei bastante pela Europa, e lembram muito a arquitetura, a dinâmica com bares, cafés, peixarias, açougues, artesanato”, destaca Romulo.
Eliane Carlotto e Laura de Moura Quaresma, respectivamente, a dona e a atendente de uma loja de souvenirs, gostam do mercado por causa do público.
“Trabalho com público há mais de 30 anos e gosto. A gente chega de manhã, dá bom dia para um, depois para outro, os garçons vão chegando e o movimento começa. É praticamente uma família. Assim é o Mercado Público”, diz Laura, que está há seis ano na função.
Já Eliane está no negócio há 15 anos e, para ela, o melhor do mercado são os vínculos. “Passamos mais tempo aqui, às vezes, do que em casa, então, se formam amizades muito legais.”
Revitalização foi bandeira do Grupo ND
Um dos símbolos da cidade, o Mercado Público é sempre foco da cobertura jornalística do Grupo ND. Foi graças ao trabalho e as cobranças do jornal ND que o município se mobilizou para uma reforma e uma nova licitação dos boxes do mercado. Na atualidade, as denúncias das dívidas dos aluguéis e os problemas mais recentes seguem como prioridade do jornal ND.
O comerciante Brito, que também é vice-presidente da Associação dos Comerciantes do Mercado, lembra que a estrutura ganhou comércios que antes não tinha, um novo sistema de segurança e novo sistema de preventivo de incêndio para evitar tragédias como a de 2004, quando toda a ala norte foi consumida pelas chamas.
“O que salvou o mercado naquela época foram os caminhões de bombeiro do aeroporto, porque até as mangueiras de incêndio do mercado estavam furadas. Um bocado de irregularidade. A partir daquela licitação, houve muita melhoria. Hoje o mercado é limpo, seguro, tem lojas variadas, culinária excelente e 13 peixarias”, ressalta Brito.
Romulo também lembra da mudança de 2014 e considera a medida indispensável para a época. “Foi uma grande mudança. Deu uma organizada. Em certos pontos estava abandonado.
Foram décadas de descuido, então, precisava daquela reforma. Hoje, também precisa de manutenção para não chegar naquele ponto, mas à época agregou bastante, trouxe cara nova, mais bares, mais restaurantes, foi muito bom para o mercado”, registra.
Desafios para se manter como ponto de encontro da cidade
O Mercado Público dos manezinhos, ponto de encontro dos figurões da cidade e parada obrigatória dos turistas, também tem seus desafios. Chegando aos 126 anos de história, um dos principais problemas apontados por aqueles que frequentam diariamente o mercadão e querem o melhor para a estrutura é a limpeza dos banheiros.
Mas também lembram que o prédio público precisa de manutenção no telhado, pois, quando chove, é comum que as goteiras atrapalhem a operação dos lojistas. Tem ainda a longa demora para o lançamento da licitação que vai preencher os 12 boxes vazios. Segundo a secretária de Administração de Florianópolis, Cynthia Camargo d`Ivanenko Vahl, todas as reivindicações dos comerciantes e até do Ministério Público de Santa Catarina já estão ou serão resolvidas.
Mercado Público de Florianópolis enfrenta desafios – Foto: Germano Rorato/ND
Para o comerciante Romulo Barreiros, do Box 32, a questão dos banheiros é uma das mais urgentes. Ele também chama a atenção para as goteiras. “Já faz quase dez anos da reforma, tem manutenção, mas algumas partes precisam ser melhoradas. Quando chove, por exemplo, chove entre as telhas”, descreve.
O pioneiro do Box 32, Beto Barreiros, comentou que os gestores do mercado acabaram de se alinhar com o Ministério Público e a associação dos comerciantes para sanar de vez as demandas do local: “As questões de acessibilidade, ocupação dos boxes vazios e melhorias do banheiro para sempre, porque até pouco tempo eram bons, tinham até ar-condicionado. Espero que volte o mais breve possível”, ressaltou.
Vice-presidente da Associação do Mercado Público, Aldonei de Brito é direto: “O que não tem manutenção, com o tempo, vai se degradando. Algumas partes precisam de reforma urgente, mas o mercado continua sendo nosso ponto turístico, só perdemos para a ponte Hercílio Luz”, ressalta.
Para a atendente Laura de Moura Quaresma, a prioridade deve ser a melhoria dos banheiros, mas também alguns retoques: “Não gosto muito dos guarda-sóis do vão central. Os pombos também trazem um certo problema e, quando choveu em janeiro, entrou água na nossa loja e tivemos um prejuízo de cerca de R$ 5.000”, comenta.
Dona da loja em que Laura trabalha, Eliane Carlotto sugere a colocação de placas para informar turistas onde ficam as diferentes lojas. “Como são muitos comércios, seria interessante ter essas placas de identificação, com um mapa do mercado, para saberem onde é o banheiro e onde encontram cada tipo de comércio”, sugere Eliane, que também está preocupada com a higiene dos banheiros.
Encaminhamentos do município em relação ao Mercado Público
Após a reforma administrativa do município, o Mercado Público de Florianópolis voltou a ser uma atribuição da Secretaria de Administração. A parte cultural e os eventos serão atribuições da pasta de Cultura. Na segunda-feira (3), a nova secretária de Administração, Cynthia Camargo d`Ivanenko Vahl, participou de uma reunião, no Ministério Público de Santa Catarina, para tratar das diferentes demandas do mercado. O encontro teve a participação dos representantes da associação dos comerciantes.
Em relação à acessibilidade, as pendências estão resolvidas, segundo a prefeitura, faltando apenas um ponto na padaria, que tem um degrau mais alto. A sugestão do MP é tornar acessível a entrada que não exigiria obra na rua, para não gerar impasse nas questões relativas ao patrimônio histórico. A solução está pendente, mas está sendo tratada.
Sobre os problemas no telhado, a secretária lembra que é um prédio antigo e nem tudo pode ser feito, porém, frisou que o município iniciou o trabalho de manutenção do teto retrátil e outras melhorias pontuais. Por uma questão de equipe, a atividade parou. “Com a questão das chuvas, deslocamos toda equipe da infraestrutura para atender essas ocorrências que impactaram muito a cidade toda. As equipes ainda estão deslocadas, mas acreditamos que em 15 dias esse trabalho será retomado”, afirma.
Em relação ao preventivo de incêndio, conforme Cynthia, tudo foi resolvido. “A intenção do prefeito é resolver os problemas de uma vez por todas. Estamos fazendo gradativamente. Muito do que o Ministério Público queria segunda-feira era entender o que a prefeitura está fazendo, só que lá existem determinadas questões que precisam ser observadas”, declara.
Já para a limpeza dos banheiros, atualmente com uma empresa terceirizada, uma tendência é que a associação do mercado passe a cuidar disso. Conforme a secretária, provavelmente a cobrança para uso será retomada. Enquanto isso não ocorre, a prefeitura reforçou as equipes para a limpeza.
Mercado Público de Florianópolis deve voltar a cobrar pelo uso dos banheiros – Foto: Germano Rorato/ND
Destinação de 12 boxes do Mercado Público vazios passará por licitação
Para preencher os 12 boxes vazios do Mercado Público, a prefeitura vai definir quais serão os produtos a serem comercializados. Anteriormente, um membro do MP queria que fossem os mesmos previstos na licitação de 2014, porém, no entendimento da prefeitura, não faz sentido voltar ao passado nesse aspecto.
“Muitos boxes faliram porque a finalidade não existe mais. Vamos fazer um novo decreto. O doutor Fabrício [promotor de Justiça] concorda e colocou na ata da reunião na segunda que precisamos readequar e não colocar lojas que vão fechar novamente”, afirma a secretária Cynthia. A meta é definir os mix até o fim deste mês para encaminhar à área de licitações.
A expectativa da associação e da maioria dos comerciantes é que o mercado voltará a viver dias melhorias. Estão mais confiantes com a nova administração e, caso os ajustes se concretizem, mais seguros para receber turistas e locais que fazem do Mercado Público um ponto de encontro e de momentos inesquecíveis
Programação de 5 de fevereiro

10h às 19h – Roda de Rendeiras e Ratoeiras em frente do Mercado, ao lado do largo da Alfândega
10h às 19h – Exposições de bonecos do Berbigão do Boca (Largo da Alfândega); Côzas de Floripa, do artista plástico Hamilton de Souza (ala norte); cestaria, cerâmica figurativa, rede de pesca, roda de oleiro, tear (Largo da Alfândega)
11h às 17h – Exposição do artista Thiago Muller, na Galeria de Arte do Mercado
12h – Fala das autoridades e parabéns ao Mercado Público
12h30 – Show de Gazu e Banda, no vão central
12h30 –  Apresentação do musical Neném Maravilha, no Balcão Mané
18h – Apresentação musical de Matheus Duarte e Banda, no vão central
18h – Apresentação musical de Dilson Guerra, no Balcão Mané
18h30 – Apresentação de Boi de Mamão

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