Base de Bolsonaro convoca reuniões em SC e no PR contra obrigatoriedade da vacina para covid-19

Na próxima semana, parlamentares que compõem a base política de Jair Bolsonaro (PL) em Santa Catarina e no Paraná irão se reunir no plenário das suas respectivas Assembleias Legislativas, em Florianópolis e em Curitiba, para audiências públicas contra a obrigatoriedade da vacina para covid-19 em crianças de seis meses a cinco anos. Em Santa Catarina, o evento tem o governador Jorginho Mello (PL) como convidado.

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Em Santa Catarina, Zé Trovão e Carlos Humberto são os proponentes da audiência pública contra obrigatoriedade da vacina para Covid-19 em crianças de até 5 anos – Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados/Agência AL/ND

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No Paraná, proponente do evento é o deputado estadual Ricardo Arruda – Orlando Kissner/Alep/ND

Os eventos seguem o tom do discurso adotado por Bolsonaro durante a pandemia. Enquanto presidente da República, Bolsonaro desacreditou, em diversos pronunciamentos, a necessidade de vacinar a população e influenciou grande parte de seus seguidores e aliados políticos, entre eles, os proponentes das audiências. Atualmente, o ex-presidente responde pela acusação de ter falsificado seu certificado de vacinação contra covid-19.
Em Florianópolis, além da presença do governador, que compunha até 2022 a base de governo Bolsonaro, enquanto senador, o evento tem o deputado federal Zé Trovão (PL-SC) e o deputado estadual Carlos Humberto (PL) como proponentes. Em Curitiba, o proponente é o deputado estadual Ricardo Arruda (PL).
As audiências ocorrerão na terça-feira (11), na Alesc, e na quinta-feira (13), na Alep. O evento também terá convidados internacionais, com médicos dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Bélgica, Itália, Letônia, Islândia, Portugal, Japão, Austrália e Nova Zelândia, além de médicos e advogados brasileiros.

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Jorginho Mello figura entre os convidados da audiência pública contra obrigatoriedade da vacina contra Covid-19 em crianças de até cinco anos – Zé Trovão/@zetrovaodeputado/Instagram

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Evento no Paraná ocorrerá dois dias depois e terá os mesmos palestrantes – Zé Trovão/@zetrovaodeputado/Instagram

Aliados de Bolsonaro querem discutir a obrigatoriedade da vacina para covid-19 no país
Segundo informações apuradas pela coluna de Paulo Rolemberg, os responsáveis pela realização da audiência em Florianópolis, Zé Trovão e Carlos Humberto, tem como objetivo apresentar diferentes perspectivas sobre a vacinação infantil, trazendo informações que possam embasar a tomada de decisão dos responsáveis.
Nas redes sociais, o mediador da audiência e uma das principais vozes antivacina na internet, John Kage, Conhecido em páginas bolsonaristas como “JK”, chamou a vacina contra covid-19 de “terapia gênica”, deduzindo que a aplicação das doses insere genes humanos nos pacientes.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) esclareceu em nota publicada em janeiro de 2022 que as vacinas contra covid-19 empregam em sua tecnologia o código genético do vírus Sars-CoV-2, não se utilizando de cópias de genes humanos para tratamentos de doenças.
Um dos convidados a palestrar na audiência, João Alberto publicou em suas redes sociais um convite ao evento em que afirma que o Estado não deve ter o direito de aplicar em crianças uma “substância química que pode trazer cardiopatia”.
Segundo nota publicada pela Anvisa em março de 2023, das 501.573.962 doses de vacinas contra Covid-19 aplicadas no país até 31 de dezembro de 2022, 154 casos de miocardite foram notificados após as aplicações –  uma incidência de 0,031 a cada 100 mil doses aplicadas, ou 0,000031%. No entanto, as investigações clínicas não apontaram para uma relação causal entre a vacina e os problemas cardíacos e não houve registro de mortes por miocardite ou pericardite diretamente relacionadas às vacinas.
Não há comprovação de que a vacina para covid-19 seja de terapia gênica ou causa doenças cardíacas – Foto: Pexels/ND
Outra palestrante da audiência, a médica Raissa Soares defende em suas redes que “nenhum país do mundo obriga vacina da covid para crianças de 6 meses a 5 anos de idade” e que os pais “estão sendo coagidos a inocular seus bebês e crianças”.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) constata que “crianças e adolescentes saudáveis ​​de 6 meses a 17 anos pertencem ao grupo de baixa prioridade para vacinação contra Covid-19”, mas recomenda que os jovens dessa faixa etária que são “imunocomprometidos, com obesidade grave ou com comorbidades e que nunca receberam a vacinação contra Covid-19 devem tomar uma dose”.
Governadores de Santa Catarina e Paraná já atuaram contra a obrigatoriedade da vacina para covid-19 em seus estados
Em fevereiro de 2024, municípios de Santa Catarina decretaram que as escolas das suas redes não iriam exigir comprovante da vacinação contra a doença para as crianças. O governador Jorginho Mello publicou um vídeo apoiando as decisões. No entanto, no mês seguinte, uma decisão do ministro Cristiano Zanin, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu os decretos.
Em agosto do mesmo ano, Mello concedeu anistia aos professores catarinenses que haviam sido dispensados por não terem se vacinado e decretou a recomposição financeira dos professores penalizados, a partir de recursos do orçamento estadual.
Jorginho Mello e Ratinho Junior já sinalizaram serem contra a obrigatoriedade da vacina para covid-19 em seus estados – Foto: Ari Dias/AEN/ND
Em abril de 2022, o governador paranaense Ratinho Junior (PSD) sancionou uma lei que proíbe a exigência do chamado “passaporte da vacina” contra a covid-19 no estado. Com isso, as unidades de ensino do Paraná não podem exigir o comprovante de vacinação para o acesso aos seus espaços.
No entanto, a lei não proíbe que as escolas exijam dos alunos comprovante de vacinação da covid-19 na hora da matrícula e, por recomendação do Ministério Público do Paraná, as instituições de ensino do estado fazem essa exigência.
Vacinas são a maneira mais eficaz para combate à covid-19, dizem especialistas
Um estudo assinado por pesquisadores da Fiocruz e de seis universidades brasileiras, bem como de uma universidade britânica, e publicado em 2021 na plataforma medRxiv, indicou que as vacinas têm alta eficácia contra hospitalização por Covid-19 no Brasil, reduzindo em até 90% o risco de morte.
Segundo o Ministério da Saúde, as vacinas são um mecanismo seguro e eficaz de proteção contra doenças infecciosas. Elas são desenvolvidas a partir de partículas do próprio agente agressor, na forma atenuada (enfraquecida) ou inativada (morta). Quando nosso organismo é atacado por um vírus ou bactéria, nosso sistema imunológico trabalha para frear a ação desses agentes estranhos. As vacinas, então, carregando o agente atenuado ou inativado,  estimulam a produção de nossas defesas, por meio de anticorpos específicos contra o “inimigo”.
Dessa forma, elas ensinam o nosso organismo a se defender de forma eficaz. E, quando o ataque de verdade acontece, a defesa é reativada por meio da memória do sistema imunológico. É isso que limita a “ação inimiga” ou, como acontece na maioria das vezes, a elimina totalmente antes que a doença se instale.

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