Celso Amorim, assessor especial da Presidência, afirma que a escalada autoritária na Venezuela é inegável


A decisão da Justiça venezuelana de mandar prender Edmundo González, principal opositor de Nicolás Maduro, gerou muitas críticas. Celso Amorim, assessor especial da Presidência, afirma que enxerga uma escalada autoritária na Venezuela
Reprodução/TV Globo
O assessor especial da presidência Celso Amorim criticou a ordem de prisão na Venezuela contra o principal opositor do presidente Nicolás Maduro. Nesta terça-feira (3), o ex-candidato Edmundo González voltou a cobrar a publicação das atas eleitorais.
A justiça venezuelana determinou, na segunda-feira (3), a prisão do candidato da oposição Edmundo González. A ordem veio após pedido do Ministério Público, que é controlado pelo presidente Nicolás Maduro.
González é acusado de vários crimes: usurpação de funções da autoridade eleitoral, falsificação de documentos oficiais, incitação de atividades ilegais e sabotagem de sistemas por ter divulgado na internet supostas atas da eleição presidencial, que, segundo a oposição, comprovariam que ele venceu as eleições contra Maduro.
O Ministério Publicou convocou o oposicionista três vezes para prestar esclarecimentos. Ele não compareceu alegando que se tratava de uma cilada para ser preso – a localização de Edmundo González é desconhecida.
Nesta terça, ele compartilhou nas redes sociais um comunidade da Unidad Venezuela, grupo criado pela oposição ao regime de Nicólas Maduro, dizendo que o país exige as atas eleitorais e não ordens de prisão. O texto diz que “os venezuelanos e o mundo olham com indignação para um regime que não foi capaz de publicar no prazo legal estabelecido nenhuma ata que apoiassem o resultado fraudulento anunciado pelo CNE, mas que é capaz de construir em minutos um mandado de prisão contra o vencedor da eleição presidencial”.
O advogado de González falou com jornalísticas e disse que nem a família, nem o próprio González consideram pediram asilo político a alguma embaixada.
Celso Amorim, assessor especial da Presidência, afirma que enxerga uma escalada autoritária na Venezuela
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A ordem de prisão é mais um episódio da escalada de repressão do regime de Maduro contra a oposição. Antes mesmo das eleições, o Tribunal Supremo e o Conselho Eleitoral, controlados pelo governo, impediram as candidaturas da ex-deputada Maria Corina Machado, principal nome da oposição, e da professora universitária Corina Yoris.
Edmundo González foi o terceiro escolhido para disputar o pleito. Na madrugada seguinte à votação, Nicolás Maduro se autodeclarou vencedor. No mesmo dia, o Conselho Eleitoral proclamou a vitória dele – sem publicar as atas que comprovariam o resultado – o que não aconteceu até hoje.
A oposição apontou fraude e organizou protestos que foram duramente reprimidos pelas forças armadas por ordem de Maduro, com milhares de prisões e dezenas de mortes.
Tanto o Centro Carter – órgão internacional que observa eleições – quanto a ONU afirmaram que o pleito não foi democrático. No início de agosto, os Estados Unidos reconheceram a vitória de Edmundo González e foram seguidos por outros países, como Uruguai e Argentina. O Brasil não reconheceu a vitória de nenhum dos lados.
Celso Amorim, assessor especial da Presidência, afirma que enxerga uma escalada autoritária na Venezuela
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Reação do governo brasileiro
Em Brasília, o embaixador Celso Amorim, assessor especial para assuntos internacionais, disse que a decisão da justiça venezuelana é muito preocupante. Segundo ele, uma coisa errada a se fazer.
Amorim deu a declaração à agência internacional Reuters. Ele disse que é “inegável” que haja uma escalada de autoritarismo na Venezuela. E que uma eventual detenção de González “seria uma prisão política, e que nós – o Brasil – não aceitamos prisioneiros políticos”.
O professor de relações internacionais Roberto Goulart Menezes, da Universidade de Brasília, acredita que a repressão na Venezuela só vai aumentar.
“O momento que a Venezuela enfrenta é gravíssimo por conta das últimas ações adotadas pelo governo Maduro, a começar que na semana passada ele nomeou Diosdado Cabello como ministro da Justiça e do Interior. Como nós sabemos, o Diosdado Cabello, desde então, tem levado adiante uma política de repressão, fechado o cerco, como eles dizem, a toda a oposição, a toda possibilidade de manifestação da oposição, e inclusive com enfrentamento direto nas ruas, enfrentando os opositores ao governo Maduro”, disse.
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Antecipação do natal
Nicolás Maduro decidiu antecipar o Natal para o próximo dia primeiro de outubro. Em seu programa semanal na televisão, Maduro disse que se trata de um agradecimento em tempos de felicidade e segurança.
Segundo especialistas, o gesto é uma cortina de fumaça para disfarçar o caos na Venezuela.
“O Maduro vai tomar posse no início de janeiro de 2025 então é muito longo esse período e ele procura não só com essa medida, mas também outras medidas do governo, tentar dar um, digamos assim, uma certa volta à normalidade ao país. O fato é que até o Natal mais gente terá, infelizmente, saído da Venezuela por conta da repressão”.
Na noite desta terça-feira, o Ministério das Relações Exteriores publicou uma nota conjunta com o governo da Colômbia manifestando profunda preocupação com a ordem de prisão de Edmundo González. A nota diz que a medida afeta gravemente os compromissos assumidos pela Venezuela e dificulta a busca por uma solução pacífica com base no diálogo.
Celso Amorim, assessor especial da Presidência, afirma que enxerga uma escalada autoritária na Venezuela
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