Deputada Índia Armelau é acusada por ex-chefe de gabinete de ter funcionários fantasmas na Alerj


Segundo Leandro Araújo, ex-chefe de gabinete da parlamentar do PL, Armelau pedia que ele assinasse listas de presença, com pessoas que ele não conhecia, mas que estavam nomeadas no gabinete. A deputada também é investigada por suspeita de rachadinha. Deputada Índia Armelau é acusada de forçar funcionários do seu gabinete para trabalhar na campanha do marido à vereador
O ex-chefe de gabinete da deputada Índia Armelau (PL) acusou a parlamentar de ter funcionários fantasmas em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Segundo Leandro Araújo, a deputada pedia que ele assinasse listas de presença de pessoas que ele não conhecia, mas que estavam nomeadas no gabinete. Araújo disse que esse foi um dos motivos para deixar o cargo.
“Já teve nomes que ela queria que eu assinasse da lista de presença. Pessoas que eu nunca vi na minha vida. (…) que estavam nomeadas no gabinete, que eu não conhecia, não sabia nem qual era a função”, contou Leandro.
“Ela queria que eu assinasse. E isso também foi um dos motivos que eu bati de frente com ela”, completou o ex-chefe de gabinete.
Trabalho forçado
A deputada estadual Índia Armelau (PL), que está sendo investigada por comandar um esquema de rachadinha em seu gabinete na Alerj, também foi acusada de forçar seus funcionários no parlamento estadual a trabalhar para seu marido, durante a campanha dele à vereador do Rio.
Deputada Índia Armelau é investigada por suspeita de rachadinha
Reprodução TV Globo
Fernando Paes Armelau (PL), marido de Índia, disputou a eleição de 2024 e foi eleito, com mais de 14 mil votos, para uma das cadeiras da Câmara do Rio.
Dias antes de tomar posse como vereador, Fernando começou a ser investigado pelo Ministério Público Eleitoral. Os procuradores também querem saber se ele utilizou recursos do gabinete da esposa em proveito próprio.
Segundo Leandro Araújo, ex-chefe de gabinete de Índia na Alerj, Fernando “praticamente mandava” nos servidores da Alerj nomeados pela esposa. Ele afirmou que quem não aceitasse seria exonerado.
“O marido dela na realidade praticamente mandava no gabinete, porque sempre estava lá ou pedindo whatsapp para algumas pessoas”, revelou Leandro.
“Antes da campanha dele, teve uma reunião que ela juntou todos do gabinete e deu uma declaração assim: ‘Vocês trabalham para mim e trabalham para o Fernando. E vocês vão trabalhar assim para mim e para ele. Quem não tiver satisfeito pode pedir exoneração'”, completou o ex-chefe de gabinete.
Ordens por mensagens
Em franca campanha, Fernando Armelau fazia pedidos para os funcionários da esposa por um aplicativo de troca de mensagens. O RJ2 obteve as conversas do grupo que ele estava com os trabalhadores.
“Rapaziada, boa tarde. Estive no parque olímpico e queria saber quais foram as estruturas que foram desmontadas, qual a destinação e quanto custou. Se tiver como acessar isso, eu vou tentar gravar lá entendeu”, escreveu o então candidato.
Poucos dias depois, Fernando gravou de fato um vídeo no Parque Olímpico.
Deputada Índia Armelau e o marido, o vereador Fernando Armelau, na quadra da Portela.
Reprodução redes sociais
O ex-chefe de gabinete contou que colegas foram obrigados a fazer campanha e a declarar doações para Fernando Armelau na Justiça Eleitoral.
As doações não eram de dinheiro, mas de horas de trabalho, que também são computadas como doação de campanha.
“Ela pegou e disse que cada um ia ter que fazer uma doação, mas na realidade não foi uma coisa de espontânea. Foi imposta para todo mundo. Inclusive, teve que assinar um termo de fazer a doação e trabalhar na campanha dele ou era exonerado”, acusou Leandro.
Ao todo, 30 pessoas declararam à Justiça Eleitoral ter doado seu tempo para trabalhar na campanha de Fernando Armelau. O RJ2 descobriu que 27 dessas pessoas eram nomeadas na Alerj, sendo 21 no gabinete de Índia Armelau.
O suposto uso de funcionários da deputada para a campanha do marido chegou ao Ministério Público no fim do ano passado e um inquérito da promotoria eleitoral apura as possíveis ilegalidades.
Após a reportagem do RJ2 da última quinta-feira (9), que mostrou os relatos de rachadinha no gabinete de Índia Armelau, o Ministério Público abriu um outro procedimento para investigar o uso indevido de servidores da Alerj.
Suspeita de rachadinha
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), através da Promotoria Eleitoral, está investigando a deputada Índia Armelau (PL) por suspeita de praticar o crime conhecido como rachadinha, em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
A rachadinha é quando um servidor público se apropria de parte dos pagamentos mensais de seus subordinados, nesse caso os assessores da parlamentar.
Segundo funcionários do gabinete de Índia Armelau, todos os assessores eram obrigados a entregar parte dos vencimentos, entre R$ 1.470 e R$ 2.940, todos os meses. O dinheiro repassado para a parlamentar era o auxílio alimentação pago para os funcionários da Alerj.
Ainda de acordo com as denúncias, o dinheiro era repassado em espécie, muitas vezes em uma sala no gabinete da parlamentar, para um assessor de confiança da deputada. Contudo, em algumas oportunidades, a entrega de parte dos salários dos servidores era feita na academia de Armelau ou na casa dela.
Deputada Índia Armelau é investigada por suspeita de rachadinha
Leandro Araújo, ex-chefe de gabinete da deputada estadual, contou ao RJ2 como ficou sabendo que Índia Armelau praticava a rachadinha no gabinete.
“Depois dos primeiros meses eu comecei ver o movimento das pessoas que entravam e iam para a sala do lado para entregar para esse rapaz um pacote. (…) Teve dias que eu entrei para entregar e eu vi um dinheiro”.
“Entreguei na mão dela e ela vira na minha cara, fica toda sem graça, e fala: ‘Isso aqui é para pagar as contas’. Só que era muito dinheiro, era muito dinheiro”, denunciou Araújo.
O ex-chefe de gabinete acusa Índia Armelau de chefiar um esquema de desvio de dinheiro público, a rachadinha.
A exoneração de Leandro foi publicada em Diário Oficial do Poder Legislativo em janeiro de 2025, um mês depois da entrevista ao RJ2.
Leandro explicou que o dinheiro desviado era o auxílio alimentação que cada um tinha direito a receber como benefício do emprego.
“O pessoal tinha que sacar o dinheiro. Quem tinha uma alimentação era R$ 1.470, que é o valor do (auxílio) alimentação. Quem tem duas alimentações é R$ 2.940”, contou.
“(A entrega) era dentro do gabinete, com uma pessoa específica. Tinha que dar o dinheiro para essa pessoa. Ou dentro da academia dela e até dentro da casa dela”, completou Leandro.
Repasse na casa da deputada
Um outro homem que não quis se identificar também trabalhou no gabinete de Índia Armelau.
Em um vídeo, ele aparece contando os R$ 1.470 da cota de alimentação do seu salário. Ele deixa o dinheiro em cima de uma bancada. O ex-funcionário afirma que a casa é de Índia Armelau.
Funcionário de Índia Armelau entrega parte do salário na casa da deputada
Reprodução TV Globo
Em uma imagem publicada pela deputada nas redes sociais, é possível ver o cômodo e as prateleiras com troféus que também aparecem no vídeo da entrega do dinheiro.
Uma foto de anúncio em um site de venda de imóveis, também dá pra ver a mureta e as cadeiras que aparecem no fundo do vídeo do ex-funcionário.
Piscineiro pago com dinheiro público
Um dos funcionários que dizem participar do esquema de rachadinha no gabinete da parlamentar contou que foi contratado como assessor parlamentar, mas que inicialmente trabalhava como motoboy.
Contudo, em pouco tempo, ele passou a ter praticamente uma única função: piscineiro da casa da deputada.
“Documento mesmo da Alerj eu acho que só levei duas vezes durante um ano”, contou.
“Quando ela me contratou, ela falou pra mim: “você vai trabalhar na Alerj, mas você pode ficar nas suas piscinas que você tem, para você não perder, inclusive você vai até continuar limpando a minha”. Só que ela falou que a dela ela não ia pagar porque já estava incluso no salário da Alerj”.
“Aí eu falei: “poxa, então faz o seguinte, Amanda, já que você não quer me pagar, você compra o material, que a mão de obra eu faço, não custa nada, eu faço”. E assim a gente foi fazendo”, explicou.
Durante os outros dias da semana, o funcionário contou que praticamente não tinha nenhuma demanda relacionada ao mandato da deputada.
“Só quando eles me chamavam. O resto dos dias eu ficava em casa, aí ficava rodando no aplicativo. Quando eles me chamavam, aí eu ia”, disse o funcionário.
Patrimônio multiplicado por 20
Amanda Brandão Armelau adotou o nome político Índia Armelau. Ela é deputada estadual de primeiro mandato, eleita em 2022 com 57 mil votos, fincados na bandeira da agenda anticorrupção
Na última eleição municipal, foi candidata a vice-prefeita do rio na chapa encabeçada por Alexandre Ramagem, também do PL.
Índia Armelau foi candidata a vice-prefeita do Rio em 2024.
Reprodução TV Globo
De uma eleição para a outra, o patrimônio declarado à Justiça Eleitoral foi multiplicado em 20 vezes, em apenas dois anos.
Em 2022, ela tinha declarado R$ 37,5 mil, o equivalente a metade das cotas da academia que possui no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste. Na eleição seguinte, o total em bens saltou para mais de R$ 700 mil.
Além da academia, Índia declarou possuir metade de uma casa, metade de um apartamento e R$ 52 mil em espécie – ou seja, dinheiro vivo.
Recentemente, Índia Armelau se mudou para essa casa comprada por R$ 1,6 milhão.
Fim do sonho da casa própria
O ex-funcionário da deputada contou ao RJ2 que também sonhava com a casa própria. Ele relata ter sido contratado com um salário de R$ 3,5 mil, mas logo no início do novo emprego recebeu mais do que imaginava.
Ele ficou eufórico. O valor extra era o auxílio alimentação. O que o trabalhador não sabia é que, segundo ele, aquele valor teria que ser entregue para a chefe.
“Eu tinha falado com a minha esposa que a gente ia comprar nossa casa. Que eu ia ganhar bem. (…) Aí, ela foi e me ligou. Ela falou assim: ‘passa lá em casa e deixa um documento’. Aí, eu falei: ‘poxa, mas que documento, você não me deu o documento nenhum'”.
“Aí eu fiquei preocupado. Ela foi e me explicou: ‘não, então lembra que eu falei para tu que tu ia ganhar R$ 3,5 mil?’. ‘Lembro’. ‘Então, o teu salário é esse. O que vai entrar a mais, aí você vai ter que me devolver'”, contou.
Código para rachadinha
Os funcionários contaram ao RJ2 que a cobrança para o pagamento da rachadinha era feita por um aplicativo de troca de mensagens e com um código para disfarçar o pedido pelo dinheiro.
“Tinha uma pessoa que falava e eles denominavam como documento. Eles colocavam até um apelido nisso colocavam como documento: ‘documento amanhã’ ‘documento hoje’, ‘documento tal dia’, revelou.
O pagamento do auxílio alimentação para os funcionários da Alerj é feito todo dia 20 de cada mês. Segundo as denúncias, no dia 19 de maio de 2024, na véspera do pagamento, um funcionário mandou uma mensagem para Leandro Araújo, o ex-chefe de gabinete da deputada.
“Léo, boa noite. Documento quarta”.
Segundo ele, os extratos comprovam que o valor foi sacado no dia combinado.
Dinheiro supostamente entregue na casa da deputada Índia Armelau (PL)
Reprodução TV Globo
“Leandro Araújo contou ainda que o dinheiro da rachadinha era entregue ao colega de gabinete que enviava as mensagens, João Lemgruber. A troca de mensagens se repetiu outras vezes, com poucas variações, sempre perto do dia 20, segundo as denúncias
Em contato com a reportagem, um assessor da deputada negou que Índia praticasse rachadinha no gabinete. Por telefone, ele afirmou que os pedidos por ‘documento’ eram para a confecção de crachás de identificação.
“Não, tem nada disso não. Era documento de foto, normal. (…) Não existe, não existe nenhum tipo de movimentação não”, contou.
O que dizem os envolvidos
Em nota, a deputada Índia Armelau negou as acusações de rachadinha. Ela disse ainda que pessoas de confiança dela participaram da campanha do marido de forma legal, após serem exoneradas ou atuando voluntariamente fora do expediente.
“Sobre a matéria de ontem, o assessor que gravou o vídeo com dinheiro foi ameaçado e registrou ocorrência contra meu ex-chefe de gabinete, Leandro Araújo, por oferecer dinheiro para prejudicar minha carreira política.
Esclareço que esse ex-assessor, que fora coagido, já prestava serviços à minha família há cerca de 15 anos, e os registros apresentados na reportagem estão descontextualizados.
Repito novamente que eu não pratico ilegalidades, não cederei a chantagens, e todas as medidas legais cabíveis serão tomadas contra aqueles que mentem, caluniam e tentam denegrir a minha imagem”.
Fernando Armelau afirmou que a denúncia contra ele é “completamente mentirosa, canalha e maldosa”. Segundo ele, os autores responderão à Justiça.
“Todos os recursos utilizados na campanha foram diretos do fundo eleitoral, são transparentes, foram auditados e aprovados pelo TRE”.
Na última quinta, a deputada Índia Armelau também disse que vai tomar as “medidas legais cabíveis”.
“Nesses tempos em que são recorrentes os casos de manipulação de áudios e vídeos, até por inteligência artificial, assusta a que ponto chega a maldade humana. Eu vou tomar as medidas legais cabíveis sobre essas mentiras. O mandato é íntegro, não será manchado por pessoas e pseudo ex-funcionários vingativos, sem aptidão técnica, que mentem e difamam para tentar destruir a minha reputação e demais assessores do gabinete.
Tentaram me difamar na época da última campanha eleitoral e não conseguiram porque a Receita Federal possui todas as informações sobre o meu patrimônio, construído legalmente e, em sua maior parte, fruto de um endividamento para financiamento imobiliário.
Estou sofrendo ataques de pessoas que frequentavam a minha casa há mais de um ano, ocupavam cargos de confiança e não aceitaram as demissões por desempenho insuficiente e quebra de confiança, inclusive assédio contra membros da minha equipe.
As medidas legais cabíveis sobre essas mentiras serão tomadas. Tenho tranquilidade para dizer que o meu mandato é íntegro, e que eu não me submeto a mau-caratismo e chantagens. Todas as calúnias e difamação não vão prevalecer”.
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